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26 de Abril de 2024

Como criar falsas memórias

(entrevista com Elizabeth F. Loftus – parte 2)

há 9 anos

Na última segunda-feira (11/05/2015), o Canal Ciências Criminas publicou a primeira parte de uma série de entrevistas com a professora Elizabeth F. Loftus (leia aqui). Hoje, a psicóloga cognitiva relata-nos alguns aspectos sobre a criação de falsas memórias.

Como são criadas as falsas memórias?

Foi o meu trabalho científico sobre distorções da memória que me colocou frente a frente com as falsas acusações. Nos primeiros estudos realizados na década de 70, demonstrei o que pode acontecer quando uma pessoa testemunha um crime ou acidente e é questionada posteriormente a respeito do incidente de forma tendenciosa.

Em um dos estudos, pessoas que viram simulações de acidentes de trânsito foram questionadas sobre “qual a velocidade que os carros estavam quando foram esmagados um pelo outro?” Esta pergunta sugestiva conduziu os entrevistados a supor que a velocidade era maior que a indicada por pessoas que foram questionadas de uma forma neutra: “qual a velocidade que os carros estavam quando se chocaram?” Ademais, a sugestão da expressão “esmagados” levou mais testemunhas a lembrar falsamente, em momento posterior, que viram vidros quebrados na cena, quando, na realidade, não havia qualquer vidro quebrado.

Em outro estudo, uma simples questão sobre um sinal de trânsito de parada obrigatória (quando na verdade tratava-se de um sinal de preferência) levou muitas pessoas a acreditar que teriam visto um sinal de parada. Ainda, em outro estudo, criamos uma falsa memória para algo tão grande e visível como um celeiro. Perguntamos para algumas testemunhas de acidentes de trânsito simulados de forma sugestiva sobre um celeiro e, como consequência, algumas afirmaram posteriormente ter visto um celeiro dentro de uma paisagem originalmente sem qualquer edificação. (Para saber mais sobre este trabalho, consulte Loftus, 1979/1996)

Ao longo dos anos, desde meus estudos iniciais, centenas de estudos documentaram as formas pelas quais à desinformação ou informações equivocadas pode complementar, contaminar ou distorcer nossas memórias. Nós utilizamos as falsas informações não apenas através de diálogos com perguntas sugestivas, mas também quando falamos com alguém que (conscientemente ou inadvertidamente) apresenta uma versão equivocada de um evento passado. Imprecisões causadas na memória por informações equivocadas são tratadas pela psicologia como “efeito falsa formação” (misinformation effect).

Baseados nesta pesquisa, sabemos que o tempo exato da informação errada é importante. Por exemplo, se a memória original tem a chance de desvanecer, torna-se mais propensa a ser alterada por informações falsas. Jovens crianças são especialmente suscetíveis a modificações de suas memórias por informações falsas. Uma vez que a informação errada se instala, a pessoa se torna bastante confiante a respeito de sua memória falsa, mesmo quando está completamente equivocada.

REFERÊNCIAS

Loftus, E. F. (1979/1996). Eyewitness testimony. Cambridge, MA: Harvard University Press.

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